sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Circo de Gredos - Canal Fácil del Cuchillar de las Navajas

Já todos havíamos estado em Gredos, em diferentes ocasiões, com diferente companhia, mas para ascender ao mesmo Pico, o Almanzor, com 2591m.

Com o cume mais icónico do circo de Gredos feito, desta vez não valia a pena repetir, tínhamos que escolher algo diferente. Podíamos apontar para o Morezón ou o Galana, mas não estavam suficientemente bem estudados por nós e como o objectivo não era fazer nenhum cume em específico, mas sim praticar, usar o material recentemente comprado (friends e parafusos de gelo), então optámos por um corredor que nos pareceu acessível, com uma aproximação simples, para não corrermos o risco de nos desorientarmos e perdermos muito tempo.

Além disso, o nosso ponto de início e fim seria a Plataforma de Gredos, ou seja, tínhamos que contar com pelo menos 4h para a ida e regresso ao "coche".

Decidimos-nos então, após alguma pesquisa por blogs espanhóis, pelo Canal Fácil del Cuchillar de las Navajas, um corredor de 300m com uma pendente máxima na ordem dos 55º, classificado pelos "nuestros hermanos" com AD (Algo Difícil), mas que poderia variar bastante dependendo das condições da neve e gelo.

Metemos então pés ao caminho, eu e o José Serra saímos de Portalegre eram umas 20h de sábado, estava o Pedro do Canto a sair de Vendas Novas nessa altura.
Ainda não era meia noite e já estávamos em Hoyos del Espino, onde íamos pernoitar, com -4ºC aquela hora.


Dia 18/02/2018 - Domingo

Alvorada cerca das 7h (hora local), às 8h estávamos a iniciar a nossa caminhada de aproximação ao Refúgio Elola desde a Plataforma de Gredos.

Já a descer para a Laguna Grande de Gredos.

A atravessar a Laguna gelada. (foto usada para o croqui que se encontra no final)

Chegámos ao Refúgio mais depressa que o previsto, em 1h40. Foi meter qualquer comidita à boca, hidratar, colocar crampons, Piolet na mão e lá vão eles em direção ao Canal Fácil, tendo como referência a "Portilla de los Machos" e um enorme rochedo que se situava na sua base. Ainda houve tempo de perder uma das minhas luvas, vá lá que levava 2 pares e deu para safar.

Aproximação sem problemas, chegamos ao rochedo e seguimos para a direita em direção à "Cascata Difícil" e o início do Canal Fácil.

A chegar junto à "Cascata Difícil" onde estavam os espanhóis.


A "Cascata Difícil" estava concorrida, uns 6 ou 7 espanhóis já tinham montado tops e já a escalavam. Seriam umas 11h, já não era cedo. Ficamos um pouco a apreciar a actividade dos espanhóis e seguimos.

Junto à "Cascata Difícil", prontos para iniciar o "Canal Fácil", tudo nomes originais.

Aqui iniciava-se o nosso petisco para hoje. O primeiro passo, apesar de se apresentar com algum gelo, estava acessível, não sendo necessário encordar.

Transposto este primeiro ressalto, temos um troço sem dificuldades até chegarmos à base da "mini cascata de gelo". O passo que o José Serra tanto aguardava para dar uso aos Piolets técnicos e aos parafusos de gelo que ainda brilhavam no arnês e esperavam ser usados.

Encordamos, Serra à frente e eu e o Pedro em cada uma das cordas. O Pedro ia em 2º, deu segurança ao Serra e eu fiquei nas fotos!

A placa de gelo teria talvez uns 8 a 10m, com inclinação entre os 60º e os 70º, WI2 segundo a nossa avaliação.

Lá vai o Serra, confiante mas prudente ao mesmo tempo. Protegeu com um friend numa fissura à esquerda antes de entrar propriamente no gelo. Entrando no gelo, foi subindo e metendo parafusos, sendo que tínhamos 3, todos de medidas diferentes, 13cm, 16cm e 19cm.

Saiu pela direita, continuou a subir e montou reunião numa boa fissura à esquerda uns metros mais acima, antes de chegar a uma espécie de gruta.





De seguida foi o Pedro, subiu bem, mas ainda houve tempo para um escorreganço, valeu o capacete e a reunião montada à bomba pelo Serra.




Fui eu de seguida, sem grandes problemas, fui tirando o material e subindo como podia, tendo saído pela esquerda tal como o Pedro tinha feito.

Subimos mais um pouco até à tal gruta, reorganizamos material e continuamos a subir. A partir daqui já era mais misto, gelo e rocha com um ou outro passo mais complicado.

A saída da gruta é um pouco exposta, por isso montamos reunião logo a seguir com o piolet na neve.

Já não faltava muito, mas a inclinação aumentava ligeiramente e o afunilamento do canal fazia com que existisse ali uma circulação de ar e queda de pedaços de neve e gelo, que digamos, stressava um pouco. Mesmo por cima de nós formava-se uma nuvem cinzenta que nos começou a assustar um pouco. Por isso não houve tempo para grandes paragens, nem para tirar fotos. Houve tempo sim para o Pedro deixar cair os óculos de sol e o assegurador que foram ladeira abaixo e nunca mais os vimos... Bom uso a quem os encontrar!

Faltavam talvez uns 50m ou nem tanto. Via-se uns passos de rocha que se vieram a revelar trabalhosos e uma cornija de neve no final, que apesar de tudo nem deu muito trabalho.

Fomos subindo, montando umas reuniões com cintas nas rochas até que ultrapassamos a cornija de neve e de repente... Fez-se paz!

Depois da ventisca com que estávamos a levar, neve e pedaços de gelo a cair em cima de nós, eu a stressar porque estava sem óculos a proteger a cara e às vezes mal conseguia olhar para cima com os olhos abertos... abriu-se um sol radiante, o vento parou e vi que tínhamos terminado o canal! A vista era magnífica, para sul toda uma planície aos pés da Serra de Gredos, para norte o Circo com a sua imponência e nós sensivelmente aos 2430m de altitude.

Comemos qualquer coisa, bebemos, tiramos as fotos da praxe e iniciamos a descida rodando para a esquerda até encontrarmos a Portilla de los Machos. A parte inicial da descida fez-se bem, já da parte final não podemos dizer o mesmo. Enterranços na neve até à cintura e as pernas a não querer colaborar... Mas não estávamos para ficar ali, havia que continuar.

No final do Canal Fácil del Cuchillar de las Navajas, Circo de Gredos em pano de fundo.

Vertente sul.
Descendo pela Portilla de los Machos, numa das partes menos más.

Chegados novamente ao refúgio, arrumamos o material, comemos qualquer coisa e saímos em direcção à Plataforma. Ainda nos esperavam cerca de 2h de caminhada. Até aos Barrerones parecíamos uns mortos-vivos, bastante cansados, mas felizes da actividade que tínhamos feito e pelo facto de ainda irmos chegar de dia ao carro.

No regresso à Plataforma.

Destino seguinte, La Bodeguilla em Hoyos del Espino para repor energias e reviver o dia à volta de umas cañas!

Regresso a Portugal, cada um para seu lado... mas já a pensar quando será a próxima!


Resumo:

Plataforma de Gredos - Refúgio Elola: 2h
Refúgio Elola - Cascata Difícil (início do Canal Fácil): 1h
Subida do Canal Fácil del Cuchillar de las Navajas: 3h
Descida pela Portilla de los Machos até ao Refúgio: 1h30
Refúgio Elola - Plataforma de Gredos: 2h

TOTAL da actividade: 9h30
tempos aproximados e com paragens incluídas.

Participantes: Hélder Melo, José Serra e Pedro do Canto.


Dados Técnicos:

Circo de Gredos, Canal Fácil del Cuchillar de las Navajas. 300m, M3+/55º, WI2

Descrição: Canal interessante e variado, com uma pendente que não assusta muito e vários pontos de "descanso". Claro que as condições variam bastante consoante a quantidade de neve e se existe gelo ou não. A tal "mini cascata de gelo" é de fácil protecção e no final os passos de misto podem ser mais ou menos expostos, mas também se protegem bem. A classificação que apresentamos acima é referente à actividade que realizamos e pode não se repetir com outras condições.

Material: jogo de Friends Camalots do 0,3 ao 3; alguns entaladores e 2 ou 3 parafusos de gelo.

"Croqui" da nossa actividade. 18/02/2018.

Sem comentários:

Enviar um comentário